O
mesmo farmacêutico representante
do CFF falou sobre
auto-hemoterapia em entrevista
na revista Pharmacia Brasileira,
edição de setembro/outubro de
2007, ocasião em que já mostrava
que tomava partido cegamente
contra a técnica. A matéria até
que começava caracterizando a
auto-hemoterapia como “prática
simples, barata e ágil” e
adiantava que não tinha como
negar o crescimento da prática.
De
forma tendenciosa, a matéria
afirmava que não existiria
nenhuma pesquisa sobre a
auto-hemoterapia, o que é
facilimamente desmentível.
Embora tente tratar
cientificamente do assunto, a
reportagem mostra como o tema é
tratado por ele no campo das
suposições, pois diz
textualmente que a lista de
doenças tratadas pela terapia
“pode fazer supor que ela esteja
se transformando numa panacéia e
indo parar nas mãos de leigos
aproveitadores”. Somente esta
frase apeadas bastaria para
mostrar que o trabalho da
revista pode até moderno
graficamente, mas no conteúdo
perde credibilidade.
A
reportagem informa em seguida
que “O Conselho Federal de
Farmácia (CFF) não a reconhece
e, por conseguinte, a proíbe e
pune os farmacêuticos que a
praticarem. Mais uma frase
precipitada, pois o fato de não
reconhecer não deveria levar
necessariamente “por
conseguinte” a proibir os
farmacêuticos de utilizarem,
muito menos punir a prática.
Deixaram de observar algo
elementar: nenhuma lei proíbe o
uso da auto-hemoterapia.
INTRIGANTE
Passam
então a entrevistar o
farmacêutico-bioquímico Osnei
Okumoto, Conselheiro Federal de
Farmácia pelo Mato Grosso do
Sul. Pergunta: “O que é
auto-hemoterapia? Qual o
princípio do tratamento?”
Resposta de Osnei Okumoto: “A
autohemoterapia (AH) é um
recurso terapêutico que consiste
na retirada de sangue do
antebraço e imediata aplicação
no músculo. O sangue, em contato
com o músculo, provoca uma
reação de rejeição do mesmo,
estimulando o sistema
retículo-endotelial. Os
monócitos produzidos na medula
óssea deslocam-se para os
tecidos, onde são denominados
macrófagos, os quais protegem os
tecidos, mantendo-os livres de
corpos estranhos”.
Uma
grande curiosidade ocorre depois
dessa resposta do farmacêutico:
como ele sabe tudo isso de
auto-hemoterapia, se diz que não
existem pesquisas a respeito?
ESTRANHO
Vem
outra pergunta: “O senhor pode
falar sobre a técnica utilizada
na auto hemoterapia: quantidade
de sangue coletado e aplicado,
freqüência do tratamento etc.?”
Resposta: “Retirase de 05 a 20
ml de sangue do melhor acesso
venoso na região antecubital do
braço (dobra do cotovelo) e
aplica-se no músculo do braço ou
da nádega, sem nada ser
acrescentado ao sangue.
Usualmente, quando o volume é
grande (por exemplo, 20 ml),
divide-se essa quantidade com a
aplicação nos músculos citados.
As aplicações são realizadas, de
sete em sete dias, para manter a
taxa de macrófagos em torno de
22%, quatro vezes mais que numa
condição normal.”
Novamente ficamos curiosos: de
onde veio a conclusão dele de
que a taxa de macrófagos atinge
22%?
SOLUÇÃO
A
revista pergunta em seguida “Por
que a auto-hemoterapia está no
centro de tanta polêmica?”
Resposta do representante do
CFF: “Sabe-se que na história da
Hemoterapia, o fascínio do povo
pelo sangue nos trouxe a todas
as técnicas empregadas, hoje, no
tratamento de pacientes com
doenças hematológicas ou não,
assim como no manejo de
pacientes traumatizados, grandes
queimados e no preparo
cirúrgico. Assim, muito se
acredita que a sua utilização
poderá trazer respostas para
doenças que não tiveram a cura
descoberta. A polêmica, neste
caso, foi gerada pela proibição
da prática, devido à falta de
comprovação científica do
procedimento, num momento em que
as pessoas buscavam uma solução
para seus males, de forma
simples e barata.”
Aqui
ele mostra que muitas funções do
sangue foram comprovadas através
do tempo e que existe a idéia de
que o sangue pode resolver
doenças que ainda não tiveram a
cura descoberta. E fala sobre a
comprovação científica do
procedimento, porém esquece que
em mais de 100 anos de
auto-hemoterapia nunca foi
contestada cientificamente a sua
eficácia. Ao contrário, milhares
de casos estão somando-se a cada
dia à lista de soluções
conseguidas através da
auto-hemoterapia.
CONVENÊNCIAS
Continuando, a revista indaga:
“As pessoas que recorrem a essa
terapia o fazem, principalmente,
para tratar infecções da pele,
como acne, eczemas, dermatites
de contato etc. Mas há uma lista
de 41 doenças em cujo tratamento
foi utilizada a
auto-hemoterapia. A lista vai do
alcoolismo à úlcera do estômago,
passando pela Diabetes melitus,
epilepsia, esclerose múltipla,
hipertensão, pneumonia e outras
as mais variadas. A
auto-hemoterapia está virando
uma panacéia?” Ao que o Sr.
Okumoto responde: “Sim, os
boatos transmitidos por pessoas
que aderiram à auto-hemoterapia
expandiram a lista de doenças
contra as quais a prática é
indicada. Bastou uma pequena
melhora do paciente que já vinha
sendo tratado com medicamentos,
e o mérito foi dado à
auto-hemoterapia”.
O
entrevistado aborda o assunto de
acordo com as conveniências da
sua entidade, pois confunde
informação com boato, já que o
que existem são fatos concretos
comprovados, ao mesmo tempo em
que ignora a existência de
inúmeros depoimentos de pessoas
que passaram a fazer
auto-hemoterapia depois que
todos os medicamentos indicados
e receitados foram utilizados
sem sucesso.
EVIDÊNCIAS
A
revista segue perguntando: “Os
macrófagos naturalmente
desencadeiam uma poderosa ação
contra vírus, bactérias e até
células cancerígenas. Os
macrófagos são a principal arma
da auto-hemoterapia. Essa
técnica está sendo utilizada,
também, no combate ao câncer? Há
eficiência nesse tratamento?” e
ele responde: “Relata-se que os
macrófagos têm importante papel
no combate às células
cancerígenas. No entanto, não
evidenciamos eficiência ou
eficácia em pacientes com esse
tipo tratamento, exclusivamente,
uma vez que temos pacientes em
vários estágios de
desenvolvimento
da
doença”.
Estranha resposta, pois se ele
alega que não existiriam
pesquisa para comprovar a
eficácia, como alega a falta de
evidências, se não pesquisou?
“O que
o senhor tem a dizer sobre o
tratamento à base da
auto-hemoterapia de doenças
originárias de desordens
hereditárias, como a Coréia
((Doença de Huntington)?”,
perguntou a revista, e o
entrevistado respondeu: “A
Coréia está na lista das doenças
que já foram tratadas com essa
terapia. Não acredito que uma
doença degenerativa, oriunda de
uma desordem hereditária, possa
ser curada com esse procedimento
terapêutico.”
Como
vemos, nesse caso ele nem trata
da pesquisa, diz logo o que ele
pessoalmente não acredita e,
como os defensores da
auto-hemoterapia não foram
ouvidos, isto passa a ser
apresentado como a verdade para
os farmacêuticos leitores da
PHARMACIA BRASILEIRA.
INVERSÃO
Segue
outra pergunta: “A técnica não
está regulamentada pela Anvisa,
nem pelo Conselho Federal de
Medicina. Também, não é
reconhecida, nem aceita, nos
meios científicos nacionais
representados pela SBHH
(Sociedade Brasileira de
Hematologia e Hemoterapia) e CBH
(Colégio Brasileiro de
Hematologia). Mas o senhor tem
informações de que o Conselho
Regional de Enfermagem (Coren)
do Distrito Federal publicou um
parecer favorável à
auto-hemoterapia, inclusive
autorizando estudantes da
graduação a utilizarem o
procedimento, a título de
estágio, desde que sob a
supervisão de um enfermeiro e
com a autorização do órgão. Por
outro lado – e o senhor também
possui informações sobre isso -,
postos médicos do Município de
Sete Lagoas (MG) aderiram ao
tratamento com auto-hemoterapia.
O senhor também informa que o
próprio Secretário de Saúde de
Olinda (PE) prescreve como
médico a auto-hemoterapia, em
posto médico. O que está
acontecendo é uma contradição?
Ou é a auto-hemoterapia que
avança, a despeito de seu
não-reconhecimento?”
Osnei
Okumoto responde: “O que
acontece é um desrespeito às
normas dos Conselhos de classe e
da sociedade de especialistas na
área. Contudo, não podemos
deixar de admitir que a
autohemoterapia está mesmo se
expandindo pela ação de
oportunistas, a maior parte
deles de leigos, que buscam, com
essa prática, a lucratividade em
cima do desespero de pessoas
incautas lutando pela cura.
Aqui o
Sr. Okumoto inverte as coisas,
falando em lucratividade de uma
técnica que em como único custo
uma seringa, um chumaço de
algodão, um pouco de álcool e
uma pessoa que saiba realizar o
procedimento. Ele fala em
desrespeito a normas, mas não
existe, na verdade, norma legal
nenhuma proibindo o uso da
técnica; esta é que é a verdade.
A
pergunta, por sua vez, mostra
que toma partido, ao dizer que a
AHT não seria aceita nos meios
científicos nacionais. Os meios
científicos não têm que aceitar
nada; têm de pesquisar e
comprovar o que é eficaz ou
rejeitar o que não for. Mas
mostra que se o Conselho de
Enfermagem do DF tratou a
técnica de forma mais aberta, o
que ocorreu também em outros
órgãos de Minas Gerais,
Pernambuco e outros, a
auto-hemoterapia não seria assim
algo que simplesmente se nega.
Ao contrário, não se nega e ela
parece um fantasma para setores
que podem deixar de lucrar com a
doença dos cidadãos. Além do
mais, não é verdade que inexista
aceitação nos conselhos, pois o
CFM voltou atrás e permite a
auto-hemoterapia através do
Tampão Sanguíneo Peridural –
TSP, o Plasma Rico em Plaquetas
e certamente breve terá de
permitir todas as outras formas
que forem sendo comprovadas.
MUDANÇA
Mais
uma pergunta veio em seguida:
“Diante da não-aceitação e
proibição, pacientes estão
buscando farmácias, drogarias e
até estabelecimentos e
profissionais leigos, para se
submeterem ao tratamento. Esses
estabelecimentos estão cometendo
infrações ética e sanitária? A
que penalidades estão sujeitos?”
Resposta: “Como diz a RDC
153/2004, ‘as extrações de
sangue com fins terapêuticos só
podem ser realizados, quando o
médico do paciente solicitar,
por escrito, o procedimento, e
quando um médico hemoterapêuta
do serviço aceitar a
responsabilidade pelo ato...’
(B.7.12). Assim, a prática da
auto-hemoterapia por não médicos
enquadra-se como exercício
ilegal da Medicina cuja pena é
de detenção (seis meses a dois
anos) e multa (se houver
lucro).”
Responsabilidade pelo ato
torna-se difícil hoje, com a
proibição autoritária e injusta
do uso da técnica, mas exercício
ilegal da medicina é outra
coisa, não essa citação do RDC
153/2004 da Anvisa, que, aliás,
poderia aproveitar esse momento
para fazer uma revisão e incluir
a auto-hemoterapia como
procedimento.
ABSURDO
Nova
pergunta: “A proibição pode
incentivar a atuação de pessoas
desqualificadas? Há perigo
nisso?” Resposta: Qualquer tipo
de atividade simples e que traz
lucro fácil é passível de ser
explorado por pessoas
desqualificadas, ainda mais
quando essa atividade é
proibida. O que expõe as pessoas
ao risco é realização da
auto-hemoterapia em locais sem
condições sanitárias como
residências e prédios do
comércio em geral.”
Nota-se a vontade de denegrir a
imagem dos adeptos da
auto-hemoterapia, quando fala o
absurdo de que seria um tipo de
atividade que traz lucro fácil.
Já mostramos de que lado está o
lucro fácil. O entrevistado
mostra também grande desrespeito
com os cidadãos brasileiros, ao
afirmar que suas residências e
pontos comerciais não teriam
condições sanitárias. Tanto tem
que a auto-hemoterapia vem sendo
utilizada e nunca foi constatado
nenhum problema decorrente da
sua aplicação. Entretanto, tudo
isto só ocorre por causa da
decisão absurda da Anvisa de
proibir a sua utilização, sem
nenhum parecer confiável que
recomendasse tal providência.
RECONHECIMENTO
Prosseguindo, indaga: “Como o
Conselho Federal de Farmácia se
manifesta sobre a realização da
auto-hemoterapia por
farmacêuticos?” E o entrevistado
Responde: “Por se tratar de
atividade não reconhecida pelo
CFF, há infração ao art. 11,
inciso VIII da Resolução número
461, cuja penalidade é de multa
ou suspensão de até três meses
do exercício profissional”.
Indagamos também: com base em
que o CFF não reconhece a
auto-hemoterapia?
ANIMAIS
Sem
citar nenhuma origem para a
“atribuição”, a revista
pergunta: “Há quem atribua ao
procedimento um efeito placebo.
O senhor concorda com esse
pensamento?” E a resposta,
novamente, não traz quaquer base
ou comprovação: “Sim, a
esperança de uma cura milagrosa
leva pessoas a se submeterem,
muitas vezes, a métodos não
convencionais de tratamento e,
neste caso, a prática da AH pode
levar o paciente a acreditar no
efeito terapêutico do
procedimento, obtendo algum
resultado em determinadas
doenças. Temos que lembrar,
também, dos benefícios da
crença, o que chamamos de
auto-sugestão.”
Aqui
ele teria de apresentar estudos
mais avançados, explicando
inclusive o efeito placebo em
cães, cavalos, bois, porcos e
outros animais. De que forma
eles são iludidos ou
auto-sugestionados.
PROCEDIMENTOS
A
longa entrevista segue: “A
auto-hemoterapia oferece algum
risco ao paciente? Ela apresenta
contra-indicações?” Resposta: ”A
aplicação por pessoas
despreparadas e em locais sem
condições sanitárias pode
ocasionar hematomas, abscessos e
infecções generalizadas. Não
conhecemos contraindicações,
pois não há pesquisas sobre as
doenças divulgadas.”
Precisamos lembrar que
hematomas, abscessos e infecções
generalizadas são encontrados
diariamente nos ambientes que o
entrevistado considera em
condições; não se trata,
portanto, de risco da
auto-hemoterapia, mas de
qualquer procedimento.
EQUÍVOCO
“A
técnica de retirar sangue do
antebraço e aplicar no músculo
começou a ser utilizada, em
1911. Há quase um século que ela
é empregada e está em processo
de expansão, no Brasil. Não há,
portanto, como desconhecer esse
tratamento. Contudo, não existe,
na literatura médica, tanto
nacional, quanto internacional,
qualquer estudo com evidências
científicas sobre a
auto-hemoterapia. O que é mais
inteligente: proibi-la, ou
pesquisá-la?”. Diante dessa
pergunta, o farmacêutico disse
que “As competências são
diferentes. Os órgãos sanitários
têm a obrigação de proteger a
população frente a um iminente
risco à saúde dos usuários do
tratamento. E as universidades e
centros de pesquisa, por sua
vez, podem – devem - estudá-la,
relatando os resultados dos seus
estudos.
Mais
uma pergunta sem resposta: de
que riscos os órgãos sanitários
estariam protegendo a população.
Ele conheceria e apresentaria
algum caso que justificasse esse
risco. Registre-se também que
não é verdade o que está
incluído na pergunta, de que não
haja estudos com evidência
científica. Existem, sim. Mais
de 200. Muitos deles deixaram de
ser considerados pelo CFM
porque, pasmem! “Encontram-se
escritos em outros idiomas”.
TRUCULÊNCIA
A
revista perguntou ainda: “Por
ser um tratamento simples,
barato, ágil, o senhor acha que
a auto-hemoterapia sofre
pressões para não ser estudada e
reconhecida?”, ao que disse:
“Não acredito. Essa argumentação
parte de pessoas defensoras da
AH, que justificam a falta de
pesquisas sobre o assunto como
decorrente de pressões dos
interesses financeiros”.
A
verdade está aí nos atos da
Anvisa e dos Conselhos, a partir
da proibição truculenta
inclusive da pesquisa que estava
sendo realizada na Secretaria de
Saúde de Olinda. Depois, a
Anvisa alega que não teria
objeções. Meio contraditório,
sim.
DESCASO
Por
fim, PHARMACIA BRASILEIRA
perguntou: “E o senhor, acredita
na autohemoterapia?”. A resposta
foi: “Todas as vezes que me
deparei com lançamento de
medicamentos que servem para
“todos os males”, percebi uma má
intenção dos seus produtores e
vendedores, pois havia o lucro
fácil por trás do “fenômeno”. No
caso da AH, pode até haver bons
resultados, em algumas doenças,
mas só acreditarei em sua
eficácia, quando a prática
estiver comprovada,
cientificamente. Agora, só posso
dizer que a prática está
proibida e que devemos alertar
as pessoas quanto ao risco da
aplicação, como vem sendo feito
clandestinamente por pessoas
leigas que cobram pelo
tratamento de sete em sete
dias”.
Mais
uma vez a resposta é uma prova
do descaso dos Conselhos da área
de saúde e da Anvisa /
Ministério da Saúde, para com os
anseios da população que deseja,
sim, ver a auto-hemoterapia
incluída como tratamento
alternativo no Sistema Único de
Saúde – SUS.
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